Projeto e Esperança
(Entrega parcial)
Reconfigurações do espaço planejado – revisão do partido.
O trabalho consiste na entrega parcial da proposta de intervenção em Samambaia. Será dado foco na representação do projeto elaborado pretende-se revisar escalas e detalhes que articulem as estratégias do local e os efeitos ecológicos, territoriais e socioeconômicos.
Sobre o contexto:
O Distrito Federal e as RAs( Regiões Administrativas)
Em 1956, com o início da construção do Plano Piloto, para a nova capital do Brasil, alguns núcleos pré-existentes e os acampamentos da Candangolândia e do Paranoá, começaram a receber um alto nível de migração de habitantes a procura de uma melhor condição de vida. Desse modo, como recurso e de forma emergencial para abrigar a população de migrante que veio para trabalhar nas obras de Brasília foram criados pequenos centros urbanos provisórios próximos aos espaços da construção de Brasília. Dessa maneira surge em 1958, Taguatinga, a primeira cidade satélite a ser inaugurada.


Tendo isso em mente, em 1978, foi elaborado o Plano Estrutural de Organização Territorial do Distrito Federal – PEOT. Com o intuito de propor uma estratégia de ocupação territorial para o DF, estabelecendo diretrizes para o zoneamento das expansões urbanas em relação ao transporte, a renda, ao trabalho, à habitação, e ao lazer, de forma a descentralizar o Plano Piloto. No PEOT , foram indicadas locais propícios à expansão urbana em áreas adjacentes a Taguatinga/Ceilândia e ao longo da BR- 060. Por fim, em 1989 foi formalizado o processo de criação de Samambaia, a RA XII.
Samambaia - RA XII
A Região Administrativa de Samambaia foi criada em 25 de outubro de 1989, a partir da Lei 49/89, que a definiu como RA XII. Localizada na Unidade de Planejamento Territorial Oeste, Samambaia é limitada pelo Córrego Taguatinga e pelo Rio Melchior ao norte, e ao sul, pela BR - 060, umas das principais vias de acesso ao Distrito federal. O local escolhido para implantação pertencia ao Núcleo Rural de Taguatinga(RA II), formado por um conjunto de chácaras, que foram aos poucos sendo desapropriadas, permitindo assim a expansão da cidade.
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Apesar de sua localização periférica e destinação aos indivíduos de baixa renda, principalmente, a Samambaia surgiu a partir de planejamento prévio, e sua ocupação ocorreu de modo ordenado (SERRANO, 2014). Em 1981, elaborou-se o estudo preliminar - Projeto Samambaia, com o intuito de responder ao crescimento populacional do DF, seguindo o projeto urbanístico do PEOT, elaborado 11 anos antes. Em 1985 recebeu seus primeiros moradores com o apoio do Programa de Olarias Comunitárias, e três anos depois se expandiu com o apoio do Sistema Habitacional de Interesse Social (SHIS) mediante ao financiamento do Banco Nacional destinadas as famílias de baixa renda. A partir de 1989 a cidade passou a receber um grande número populacional vindos de invasões e fundos de quintal, fazendo o governo abrigar a população o sob o "Sistema Concessão de Uso" em lotes ainda semi-urbanizado, oficializando assim a Samambaia como RA XII.
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Fonte: PDAD - Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (2018)

Fonte: PDAD - Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (2018)


O projeto urbano de Samambaia, datado de 1981 e implementado em 1982, é composto por longos eixos e lotes predominantemente ortogonais. A justificativa para a implementação dessa axialidade está em questões econômicas e relacionadas a infraestrutura. A continuidade dos lotes reduz os custos de implementação das infraestruturas urbanas, além de corroborar para a fluidez do sistema viário e a eficiência na coleta de lixo. O projeto previa a capacidade de 330 mil moradores distribuídos em 106 quilômetros (CANANI, 2008).

O sistema de mobilidade urbana estrutura a cidade de forma linear, a partir de quatro vias principais, que se conectam às vias transversais. Essa configuração diminui a propensão da cidade a ter congestionamentos. Um fato interessante é que não existem semáforos em Samambaia, apenas rotatórias e redutores de velocidade, provando, portanto, a qualidade da estruturação da malha viária.
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Entretanto, esse esquema de vias arteriais causa descontinuidade de vias e bolsões de estacionamento em locais não recomendados, atrapalhando a conexão com as demais vias coletoras. Dentro das quadras, as vias se tornam labirínticas e não padronizadas, dificultando o acesso dos moradores.
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O desenho urbano de Samambaia, influenciado pela linha de metrô presente e das linhas de transmissão de alta tensão, dificulta a conexão entre as regiões Sul e Norte, criando dois bairros praticamente separados. Esse grande vazio urbano é atravessado por cinco vias transversais em mais de 8 quilômetros de extensão. Em relação aos eixos de torres de alta tensão, estas também servem como barreira na interface de Samambaia com Taguatinga.

Projetos atuais: Túnel de Taguatinga
O túnel de Taguatinga consiste em um projeto que integra o Eixo Oeste, beneficiando não somente a região de Taguatinga, mas também Ceilândia e Samambaia, e irá contar com uma faixa exclusiva para o BRT, que vai ligar estes centros com a EPTG e a EPIG. O objetivo é evitar o congestionamento de veículos no centro da cidade ao oferecer uma nova via alternativa e uma nova superfície 800 metros de extensão para a cidade se ocupar. A Avenida Central de Taguatinga vai ser transformar em um boulevard arborizado, com foco no comércio e na ampliação de calçadas e estacionamentos. De acordo com pesquisa divulgada ano Correio Brasiliense, a economia da cidade irá se desenvolver e fortalecer graças a essa via.
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O túnel de Taguatinga tem uma extensão completa de mais 1000 metros e tem a estimativa de beneficiar pelo menos 130 mil motoristas que trafegam pela cidade. A obra custou cerca de 300 milhões e está chegando em sua fase final, com a expectativa de terminar até o fim de 2022.

Vista aérea do túnel de Taguatinga. Fonte: Governo do Distrito Federal

Corte perspectivado do túnel de Taguatinga. Fonte: Governo do Distrito Federal
Projetos atuais: Avenida das Cidades
O projeto da Avenida das Cidades, anteriormente chamado de Transbrasília, baseia-se na criação de um corredor viário que liga o Plano Piloto a Samambaia, possibilitado pelo aterramento das linhas de alta tensão que ocupam um espaço que poderia ser requalificado. A Avenida das Cidades, que teria uma extensão de 27km, é pensado desde 1997 no Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (PDOT).
É importante destacar, que a via não tem um caráter de via expressa, mas sim de um instrumento facilitador para mobilidade e o foco seria na criação de espaços de convivência para os moradores, bem como a criação de comércios, residências, parques e novos equipamentos urbanos.
Tem-se a expectativa de começar as obras a partir de 2022, especialmente devido a parceria público privada criada entre o governo do Distrito Federal juntamente com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A obra tem a previsão de duração de oito anos.
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A Avenida das Cidades em números, de acordo com a Secretaria de Estado de Projetos Especiais (SEPE):
· 20 mil empregos diretos na fase de implantação;
· Potencial para geração de 80 mil postos de trabalho na fase de operação;
· 9,56 milhões de metros quadrados de área total de empreendimento;
· 830 mil m; de áreas comerciais;
· 26km de via;
· 35 obras de artes especiais (pontes, viadutos, trincheiras, elevados);
· 200km de ciclovias;
· 900 mil m; de calçadas;
· Oito parques;
· 11,2 milhões de m; de parques revitalizados;
· 700 mil árvores plantadas.

Mapa da futura Avenida das Cidades. Fonte: DFÁguas Claras

Representação do projeto da Avenida das Cidades. Fonte: Governo do Distrito Federal
Uma nova proposta de integração
No intuito de integrar as regiões Norte e Sul de Samambaia, que atualmente são divididas por grandes campos ocupados apenas por vias de alta tensão, é proposto o aterro e a requalificação desta área, por meio de novas vias de carros, pedestres, ciclovias e, em especial, a criação de uma linha de VLT, bem como a criação de novos loteamentos. A diretriz norteadora no que se refere a criação das novas vias é de privilegiar sobretudo os pedestres, criando caminhos onde já existem vias não oficiais ao longo dessa conexão Norte/Sul.
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Objetiva-se a criação de um novo centro que represente a identidade da cidade e atenda às necessidades da comunidade. Onde atualmente existem grandes lotes vazios ou mal utilizados, o projeto propõe a conversão desses espaços em locais comércio, lazer, cultura e novas residências


Corte urbano da proposta. Imagem elaborada pelas autoras

Perspectiva da proposta. Imagem elaborada pelas autoras
O projeto tem a potencialidade de expansão, tanto para oeste, quanto para leste. No primeiro caso, seria necessário a desapropriação de lotes, que apesar de já estarem implantados, não estão sendo utilizados. Tendo isso em mente, seria pensado em uma recompensação e realocação destes. Os benefícios desta expansão seria trazer a linha de VLT para uma outra área de Samambaia que atualmente se encontra afastada do centro e parcialmente desconectada da malha urbana, fazendo com que os loteamentos novos criem um desenvolvimento econômico da região.
Na possibilidade expansão para o leste, o projeto iria depender do aterramento da linha de metrô, que por sua vez atende apenas cerca de 8% da população (BISPO, 2018). Ao aterrar o metrô, criar-se-ia uma superfície livre para a continuação das novas vias, a linha do VLT e os novos loteamentos e equipamentos públicos. Dessa maneira, o potencial desta área já muito bem consolidada e integrada aumentaria significantemente.

Antes X Depois: Cheios e vazios
O grande vazio urbano causado pelas torres de alta tensão criou vias labirínticas, tanto do lado norte, quanto do lado sul. Por vezes, estas vias não têm saídas o que acaba confundindo e dificultando a mobilidade nas vias locais. Portanto, no projeto foram propostas novas vias de veículos na direção Norte/Sul, que além de ligar as duas regiões, apresentam novas saídas para os moradores.
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A integração proposta baseia-se em um sistema de integração multi modal, onde carro, ônibus, VLT, bicicleta e pedestre possam ocupar o espaço de maneira segura e eficaz. Seria empregado um sistema em hierarquias, dependendo da velocidade dos meios de transporte, que acompanhariam os pedestres ao lado de loteamentos com uso misto.

Estudo para a via intermodal. Imagem elaborada pelas autoras

Estudo para a via intermodal. Imagem elaborada pelas autoras

Estudo para a via intermodal. Imagem elaborada pelas autoras
Como mencionado anteriormente, foram estudados os caminhos de desejo existentes neste vazio urbano e foram propostas calçadas e ciclovias consolidadas, acompanhadas de arborização para a proteção solar. Dessa maneira, por se tratar de um caminho já realizado pelos moradores, a apropriação do espaço se daria de maneira mais efetiva.
Enquanto a proposta de expansão não é consolidada, o projeto propõe um espaço de integração entre as vias multi modais e a linha de metrô. Dessa maneira, todos aqueles que usam o metrô teriam fácil acesso a outras maneiras de locomoção pela cidade, integrando mais uma vez, uma nova modalidade de transporte ao projeto.

Novos loteamentos
Após a proposta de integração a partir de um novo sistema viário, foi estudado a melhor maneira de ocupar o vazio urbano presente na região. Em conjunto com a proposta viária, está previsto para estas quadras vias mais largas se comparadas às já existentes. A proposta dos novos loteamentos parte da criação de edificações de uso mistos à beira das vias criadas, de forma que os novos comércios criem uma centralidade para a área. Após as quadras comerciais, seriam implantadas as quadras residenciais.
Inicialmente, é proposto casas unifamiliares geminadas, por já ser uma tipologia usada na cidade, dessa maneira respeitando a identidade local. Entre os conjuntos residenciais seria proposto um espaço aberto com um equipamento publico na quadra central, de maneira a incentivar a apropriação do espaço aos moradores.

Estudo da tipologia de uso misto. Imagem elaborada pelas autoras

Estudo da tipologia residencial. Imagem elaborada pelas autoras
Ciclovias
Atualmente, apenas cerca de 28,13% da população de Samambaia se sente contemplados por ciclovias por onde morar e 21,88% afirmam ter contato com vias arborizadas (BISPO, 2018). Desse modo, além das ciclovias propostas no conjunto viário, o projeto também consiste na criação de novas faixas para bicicletas por todo o perímetro das avenidas principais de Samambaia, além da proposta de arborização destas.
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Portanto, foi buscado a melhor maneira de implantar essas ciclovias de maneira segura na cidade, sobretudo nas rotatórias. De acordo com um estudo realizado por Teramoto em 2013, uma das melhores maneiras de conciliar as duas vias, seria com cruzamentos específicos para bicicletas, separados das rotatórias. Dessa maneira, haveria uma diminuição nos casos de acidentes, pois os motoristas teriam mais chances de perceberem as bicicletas.

Modelo de ciclovia proposta na rotatória. Fonte: Dijkstra et al., 1998.
Referências bibliográficas
BISPO, Hervelton. Requalificar Samambaia. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
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EUFRÁSIO, Jéssica. Projeto que cria Avenida das Cidades ganha força após acordo com Aneel. Correio Braziliense, 2022. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/02/19/interna_cidadesdf,828901/avenida-das-cidades-ganha-forca-apos-acordo-com-aneel.shtml. Acesso em: 19/07/2022.
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PERES, Edis. Taguatinga 64 anos: novo túnel deve revigorar economia da região. Correio Braziliense, 2022. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2022/06/5011935-taguatinga-64-anos-novo-tunel-deve-revigorar-economia-da-regiao.html. Acesso em: 19/07/2022.
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SCHWINGEL, Samara. Ibaneis sobre túnel de Taguatinga: "Será finalizado até o fim do ano". Metrópoles, 2022. Disponível em: https://www.metropoles.com/distrito-federal/ibaneis-sobre-tunel-de-taguatinga-sera-finalizado-ate-o-fim-do-ano. Acesso em: 19/07/2022
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TERAMOTO, Telmo. Organização do espaço dos ciclistas em rotatórias. In: Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, 19. Brasília, 2013.
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